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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Textos indicados para trabalhar variação linguística

SÓ PRA MÓDE EU ALEMBRÁ...
Foi numa quadria de São João, na casa de Mané Bento, quêu lhe cunheci. Ocê óiava pra mim dum jeito bunito. Riu no meio da fumaça do pito de páia e abanô a mão cumo se eu já lhe fosse uma cunhicida. Não vô negá: meu coração pulô esquisito, trem quêu num sintia a muntos ano, em deusde que o falecido Jacinto, meu marido, foi morá nas graça de Deus Pai... Oiei ocê de terno branco, o chapéu mêi de banda na cabeça, e a simpatia vêi na horinha: ai, meu São João que home era aquêle? De quê parage tinha vindo, pra ficá ali me atentando que nem um demonho?

A sanfona do Varto espaiava u’as moda bunita no terrêro. A noite tava tão fria quêu nem pudia disgarrá da fuguêra. As moça de cumá Indalina chamô pras simpatia. Antoninha foi me levano, me rastano, eu nunca querditei nesses sortilejo pra ranjá marido. Pusero uma bacia d’água, me mandaro falá u’as palavra e oiá a água: lá havera de paricê a cara de meu noivo. Oiei e levei um baita susto! Credo! Tinha memo a cara dum home lá! Munto assombrada virei pa tráis. Era ocê! A cara era ocê oiando pu riba de mim. Minhas face pegô fogo, ficaro da cor da fuguêra! Ocê achô graça e saiu puxano eu pa dançá um xote...

Intão, cumo diz o caso, ocê foi se arranchano, por aqui. Premero deu as cara no curral pra móde desejá um bão dia. Falô que tinha vino dôtas lunjura, tinha tomado gosto pelo arruado de Sant’Ana, pelo povo bão da roça. Foi se achegano de mansinho que nem gato em burraio de fugão. A gente nem toma tento, condo vê já tá lá todo esparramado, o bichanim... E roncano bem forgado... Certa veiz o ôi da noite lhe pegô nu’a visita e ocê pidiu pa pernoitá. Fiquei com dó de pensá nocê naquelas iscuridão dos cerrado e dei o acordo. A bem dizê, nóis já tinha memo se tornado cunhicido e ocê era duma elegança quêu num cunhicia em matuto nenhum ali pras nossa banda. Ligêro, ocê foi espaiando as suas tráia no quartim dos arreio, pindurano a capa, a bainha do facão, o cabresto do cavalo, o saco de montaria... As bota ficaro na solêra da porta... Tavam que era um vermeiume só! Pura lama!... Deve de ter sido condo ocê parou no Corguim pra dá de bebê pro animale...

Dispois disso num alembro de quais nada, não. Só vô recordano, a dirriça que ocê feiz na minha vida! Toda sorte de marcriação, de desaforo, de palavra ruim, ocê ia dispejano condo arguma coisa não saía dos seus agrado. E fui veno, tiquim em tiquim, a raposa peçonhenta atráis das aparênça de cabra bão. Um home que era só casca, num valia um tustão furado. Dispôis foi aquele empurrão em riba da mesa, fazeno os prato em cacaria. Foi o premero, foi o sigundo, foi o tercêro, até eu perdê as conta. Ocê num valia memo as carça zurrada que vistia. Mas, tantas veiz eu lhe fazia as trôxa, via ocê enjueiado, a chorá que nem minino, pidino perdão. Meu coração nunca prestô prêsses tréim. Eu perduava e perduava, e jurava pelos Santim de Deus que era a úrtima veis. E era mais uma veiz, mais ôtra veiz...

Até que chegô aquele dia que ocê se imbebedô além da conta lá na venda do Tuniquim e chegou cum Satanáis no côro. Entrô pela porta arrotano corage e disafiano as parede. Eu nunca istranhei as sua brabeza de pinga. Sabia que era coisa do incardido instigano a discórdia. Sempre ia deitar calada, rezava o terço, entregava ocê pras almas protegê. E falo que naquele domingo de tarde ia sê a mema coisa. Mas ocê caiu na desgracêra de pronunciá a palavra mardita! Ah, ocê num sabe o tamãe do estrago que feiz, me chamano daquele treim quêu nunca miricia de escutar. Ocê nunca sôbe, nem nunca haverá de sabê, mas foi por causa dela, daquela palavra que me arripia até os úrtimos cabelo do corpo, quêu afoguei o Jacinto no reberão... E depois contei pros ôtos que ele tinha iscurregado nas pedra limosa... Tem ôta coisa que ocê num sabe: eu tô armano procê uma arapuca... Das boa! Só num vô alardiá que é pra móde num perdê a graça... Ah, rapaiz...
MARINA ALVES

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